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CBN, 871; CV. 455
de Airas Nunes
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(Serventês moral, sem dúvida inesperado na pena do clérigo compostelano Airas Nunes, uma das inspirações mais altas dos Cancioneiros: a verdade, em declínio no mundo, tinha desertado até as próprias instituições religiosas, que deviam ser o seu último refúgio.)
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Porque no mundo mengou a verdade,
punhei un dia de a ir buscar;
e, u por ela fui [a] perguntar,
disseron todos: - Alhur la buscade,
ca de tal guisa se foi a perder,
que non podemos en novas aver
nen já non anda na irmãidade.
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Nos moesteiros dos frades regrados
a demandei, e disseron-m' assi:
- Non busquedes vós a verdad' aqui,
ca muitos anos avemos passados
que non morou nos, per bõa fé,
[nem sabemos u ela agora x' é,]
e d' al avemos maiores coidados.
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E en Cistel, u verdade soía
sempre morar, disseron-me que non
morava i, avia gran sazon,
nen frade d' i já a non conhocia,
nen o abade outrossi no estar
sol non queria que foss' i pousar;
e anda já fora da [a]badia.
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En Santiago, seend' albergado
en mia pousada, chegaron romeus.
Preguntei-os e disseron: - Par Deus,
muito levade-lo caminh' errado,
ca, se verdade quiserdes achar,
outro caminho conven a buscar,
ca non saben aqui dela mandado.
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LAPA, Rodrigues (editor). - Cantigas d' Escarnio e De Mal Dizer, 1995, Edições João Sá da Costa, pág. 62
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